sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Então vejo algo aparecer na névoa


2 de Agosto.

Poderia comprar uma passagem na estação, esperar o primeiro trem e ir para algum lugar. E então ver todos os ruídos das cidades pelos trilhos do trem.
Me empenhando poderia conseguir um apartamento em algum lugar, talvez. Longe de noções pré-concebidas e de funções que nos foram divididas. Poderia começar uma nova vida, ser um decorador de interiores... e talvez eu possa dar valor.
E com pouco de sorte poderia encontrar alguém. Alguém para conversar. Novos amigos. Poderia me tornar um chef ou banqueiro, tanto faz. Conseguir um trabalho com um salário. Comprar roupas novas realmente boas, roupas caras talvez... que eu goste. E talvez encontraria uma garota que goste de mim.
Poderíamos passar um tempo juntos, somente nós dois. Ficar até tarde da manhã na cama, aproveitando um ao outro... esquecendo o resto, falando nossa própria linguagem. Poderíamos discutir, mas resolveríamos, conversaríamos, mudaríamos juntos. Iríamos de carro até o mar, faríamos uma casa e teríamos filhos. Três ou quatro, talvez. Crianças fortes e engraçadas e eu os amaria. Daria a eles uma casa e um pai.
Provavelmente acordaria no meio da noite e teria dúvidas sobre minhas escolhas e meu amor. Andaria pela rua observando os carros na escuridão, cegado pelos faróis e sentindo o frio e a solidão. E quando retornasse à cama, a abraçaria e me odiaria.
Então vejo algo aparecer na névoa.
E então perderia a cidade que eu nasci, minha cidade natal.
Aquela pequena cidade litorânea que eu talvez nunca tenha deixado... e talvez eu continuasse aqui.
Talvez é isso que eu escolheria. Talvez eu não vá para nenhum lugar.
Ficarei aqui.
É o que escolho.
É o que eu escolho.

David, "Adeus Falkenberg" (2006).