quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Proteções


- Hora de dormir, gatinha.
- Ah! não! Só mais um pouco!
- Mas não por muito tempo.
- Mamãe, eu tenho uma pergunta.
- O quê, querida?
- Quando você e titia eram pequenas, vocês ficavam muito tempo juntas?
- Sim, muito.
- Mas a tia Juliette é mais velha que você. Então ela lhe protegia?
- Sim, contra tudo.
- E porque ela parou?
- Porque eu já não era mais uma menininha. Agora, durma.
- Sempre precisamos de quem nos proteja, não é? Mesmo grandes?
- É para isso que o papai está aí. Vamos dormir agora.
- Sabe mamãe, eu amo muito a tia Juliette.
- Eu também, meu anjo.
- É uma pena ela não ter filhos.
- Por que está dizendo isso?
- Porque eu teria muitos primos.
- Durma.

Léa & Petit Lys, "Há Tanto Tempo que te Amo" (2008).

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Uma outra forma de amar


- Não diz nada, senhorita? Não gostou da minha pintura?
- Você já esteve apaixonada?
- Essas coisas são pessoais.
- Por favor...
- Não vai contar a ninguém? Uma vez, há muito tempo, eu me apaixonei. Ele se chamava Cyril. Um oficial. Ele me cortejou... Ficamos noivos, e, então, um dia, ele desapareceu.
- Você nunca tentou encontrá-lo?
- Fazer uma pintura, senhorita... é uma outra forma de amar. Frequentemente, eu o vejo dentro de mim, ou através de outros rostos. E eu me digo que, se eu ainda penso nele, talvez ele ainda pense em mim.
- Posso tirar uma foto sua?
- Sim.
- Olhe para mim.
- Não, eu preciso elevar meus olhos. Minha inspiração vem do alto.

Séraphine & Anne-Marie, "Séraphine" (2008).

domingo, 16 de janeiro de 2011

Você deveria pôr um anúncio no jornal


- Alguma notícia de seu irmão?
- Recebi um cartão ontem. De Le Mans.
- Ele está por aí.
- É. Não sei o que ele está fazendo.
- Ele não disse?
- Ele fala que arruma uns "bicos", às vezes ele toca em bares. Ele toca violão e canta muito bem. Ele fica alguns dias, às vezes uma semana. De Rennes, ele me escreveu duas vezes. Então pega suas coisas e vai embora. Ele não quer me ver.
- Perto da casa de meus avós, tinha um carinha que sumiu um dia, e ninguém sabia por quê. Não dava notícias durante anos. Nem uma carta sequer. Então um dia, os pais dele estavam cerca de 300 quilômetros de casa, e o viram, deitado na calçada, mendigando com um cachorro.
- Por que está me contando?
- Não sei. Para mostrar que ninguém sabe o que se passa na cabeça dos outros. Talvez ele conheceu alguém e... Você deveria pôr um anúncio no jornal. Peça o número de telefone dele ou endereço.
- Ele não quer me ver. Eu queria dizer... Quando você foi ao hospital... achei demais. E o livro também.
- É bom, huh?
- O final é ruim, mas o livro é bom.
- Final feliz uma vez, ruim em outra, assim é a vida.

Thomas & Lili, "Não se Preocupe, Estou Bem" (2006).

sábado, 15 de janeiro de 2011

Porque eramos diferentes


- O sujeito que traz as coisas pra mim achou que fosse meu marido.
- Não conhecia Louis?
- Não. De qualquer forma não se parece com ele.
- É normal.
- Por quê?
- Porque eramos diferentes. Não sei se realmente gostava dele. Quando penso nele, sempre ouço gritos, insultos... Não sei o que lhe fizeram. Se realmente sofria, se tinha razão para guardar rancor, mas... eu guardava dele por ter feito minha mãe chorar. É estranho, no dia do enterro meu pai estava consternado. Enquanto ela... chorava. Cheguei a pensar que talvez tivesse ganhado a guerra. Que finalmente estava vingada. Que nunca mais a faria chorar novamente.
- Gostaria de vir comigo à praia mais tarde?
- Sim, claro.

Mousse & Paul, "O Refúgio" (2009).

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Eu não disse que lhe daria um beijo.


- Aonde você vai?
- Só vou buscar uma xícara de café. Você quer algo?
- Sim, pode trazer um chocolate quente?
- Certo, eu trago.
- Quando você volta?
- Uns cinco minutos. O que quer dizer? Já volto.
- É que eu estou com essa sensação de que você não vai voltar.
- ... Acabei de dizer que já volto. Eu estarei de volta em,
uh, em cinco minutos. Trago um chocolate quente.
- Eu gosto de você de verdade. Vou ficar muito triste se você não voltar, a menos que você me diga. Se você não for voltar, só me diga. Não minta pra mim. Você vai voltar ou não?
- Se você não quiser que eu vá, eu não irei, certo? Eu não trago um chocolate quente. Nós podíamos só...
- Se você quer um café, vá pegar café. Apenas volte.
- Eu falei que já volto.
- Pode me dar um beijo de despedida?
- Não. Não comece... Por favor... Não arrume encrenca. Não... Não... Não faça maldade. Eu não disse que lhe daria um beijo. Eu disse que traria um chocolate quente, certo? Então estou indo.
- Posso ter um abraço então?
- Ah, cara. Qualé. Não podemos apenas apertar as mãos?
- Ok.
- Lembre-se que você prometeu que vai voltar.
- Prometo.
- Billy... Eu só queria que você soubesse que eu acho que você é cara o mais doce no mundo... E o mais bonito... E eu te amo.

Layla & Billy, "Buffalo '66" (1998).