sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Então vejo algo aparecer na névoa


2 de Agosto.

Poderia comprar uma passagem na estação, esperar o primeiro trem e ir para algum lugar. E então ver todos os ruídos das cidades pelos trilhos do trem.
Me empenhando poderia conseguir um apartamento em algum lugar, talvez. Longe de noções pré-concebidas e de funções que nos foram divididas. Poderia começar uma nova vida, ser um decorador de interiores... e talvez eu possa dar valor.
E com pouco de sorte poderia encontrar alguém. Alguém para conversar. Novos amigos. Poderia me tornar um chef ou banqueiro, tanto faz. Conseguir um trabalho com um salário. Comprar roupas novas realmente boas, roupas caras talvez... que eu goste. E talvez encontraria uma garota que goste de mim.
Poderíamos passar um tempo juntos, somente nós dois. Ficar até tarde da manhã na cama, aproveitando um ao outro... esquecendo o resto, falando nossa própria linguagem. Poderíamos discutir, mas resolveríamos, conversaríamos, mudaríamos juntos. Iríamos de carro até o mar, faríamos uma casa e teríamos filhos. Três ou quatro, talvez. Crianças fortes e engraçadas e eu os amaria. Daria a eles uma casa e um pai.
Provavelmente acordaria no meio da noite e teria dúvidas sobre minhas escolhas e meu amor. Andaria pela rua observando os carros na escuridão, cegado pelos faróis e sentindo o frio e a solidão. E quando retornasse à cama, a abraçaria e me odiaria.
Então vejo algo aparecer na névoa.
E então perderia a cidade que eu nasci, minha cidade natal.
Aquela pequena cidade litorânea que eu talvez nunca tenha deixado... e talvez eu continuasse aqui.
Talvez é isso que eu escolheria. Talvez eu não vá para nenhum lugar.
Ficarei aqui.
É o que escolho.
É o que eu escolho.

David, "Adeus Falkenberg" (2006).

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Uma cama voando pelo espaço


- Jack...
- Sim?
- Posso perguntar uma coisa?
- Pode.
- O que deseja ver em uma mulher?
- Quer dizer, em você? Ou...
- É. Quando pensa numa mulher, o que você quer ver?
- Alguém que goste de música.
- Sim...
- Alguém positivo. Não uma pessoa de humor negro.
- São coisas legais... Não tão árduas... Ah...
- Desculpe.
- O quê? Não... Quero dizer, você está sendo gentil. Quis dizer que não é difícil ser uma pessoa positiva ao seu lado.
- Alguém que não precise procurar por outros homens.
- Quer dizer, fazer sexo com outros homens?
- Ela sentir, sabe, que precisa.
- Eu não vou fazer isso nunca.
- O que você quer ver?
- Sentir que ele pode me dizer a verdade. Senso de humor... Ter um emprego... Paciente, como você... Sexy.
- Eu posso ser algumas dessas coisas.

Connie & Jack, "Vejo Você no Próximo Verão (Jack Goes Boating)" (2010).

O que resta?


- Vai mesmo embora amanhã?
- Acho que sim.
- Sentirei sua falta.
- E nós mal nos conhecemos...
- "Você não sabe o que você é
Tens sonhado por toda a sua vida,
Teus olhos têm se mantido fechados
A maior parte do tempo.
O que quer que tenha feito
Retorna em forma de escárnios.
Os escárnios não te representam.
Por baixo deles e dentro deles
Vejo você à espreita."
- Quem é esse?
- Walt Whitman.
- Acho que nunca imaginei que uma mulher que pescou um bagre de 20 quilos me recitaria uma poesia.
- É exatamente assim que ele deve ser recitado. Escrito sem rima, ou métrica, versos livres... O que fosse que ele sentia por dentro saía fluindo em seu ritmo intrincado. Paixão pura e desavergonhada. Sem restrições definidas...
- Desculpe, tenho alguns problemas com isso.
- Por quê?
- Porque alguns sugerem que até poesia tem regras.
- Ou você faz suas próprias regras...
- Exatamente isso. É essa a parte que não acredito.
- Por quê?
- Porque se todos vão por aí, criando suas próprias regras, como pode... saber qual é a verdadeira? Não há nada em que se apoiar...
- "Uma noite
Dividi minha pele de cigarra
Devorei suas folhas
Sem conhecer venenos
Nenhuma regra de nutrição
Naquela cegueira dissimulada
Uma desejo finalmente verdadeiro."
- Quem é esse?
- Sou eu.
- Talvez o que seja verdade esteja à nossa frente... e nos afastamos sem saber que está lá. Uma vez que ache que tem tudo resolvido... O que resta?

Janet & Billy, "Leaves of Grass" (2009).

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Isso torna um romance entre nós mais provável.


Querida Jordana,

Obrigado por deixar explorar seu corpo. Poderia beber seu sangue. Você é a única que eu permitiria ser reduzida de tamanho e nadar dentro de mim numa máquina minúscula. Perdemos nossa virgindade, mas não foi como perder algo. Você é boa demais para mim, para qualquer um.

Sinceramente,

Oliver.

"Submarine" (2011).

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Um caso clássico de paixonite


- Você precisa ir. Ele vai chegar a qualquer momento... Trabalha aqui perto. É melhor ele vir me buscar. Isso acontece de vez em quando.
- Tenho que lhe dizer uma coisa... E tem que ser agora. Amo você. Estou apaixonado por você. O mundo parece menos terrível porque você existe. Sinto que quero ficar com você pelo resto da minha vida. E isso tudo, as palpitações, os nervos... A dor, a felicidade e o medo. Eu quero... Quero tocar você o tempo todo... Quero cuidar de você e de suas meninas... E até arrumar um emprego decente para o seu marido... E lhe comprar uma casa que não tenha rodas e...
- Cuidado. Parece um caso clássico de paixonite.
- Eu estou apaixonado. Classicamente apaixonado! O clássico marido que vai chegar a qualquer momento... E a clássica depressão... A cada vez que você se vai com ele... E o choro... E as lágrimas e tudo mais... Vou indo. Não quero ver você ir embora com outro cara. Alguém que você não conhece. Por isso, vou ficar olhando. A menos, claro, que seja seu marido.

Ann & Lee, "Minha Vida Sem Mim" (2003).

sábado, 11 de junho de 2011

Monstros não existem


- Como vai?
- Tudo bem.
- Não se assustou, não é? Não há monstros no armário, há? Detesto monstros.
- Monstros não existem.
- Então, ótimo.
- Ouvi um barulho.
- De caminhão?
- De bala.
- Estranho. Porque nós saímos daquele bairro violento. E não há muitas armas por aqui.
- As balas vão longe?
- Bem longe. Geralmente, penetram em algum lugar e param.
- E se não pararem?
- Está pensando na bala que passou pela sua janela? Quer que nos mudemos de novo?
- Gosto daqui.
- Eu também. Mas se aquela bala descobrir onde estamos... Espere aí.
- O que foi?
- Que idiota! Como pude esquecer?
- O quê?
- Esqueça. Você não vai acreditar.
- Conte.
- Está bem. Quando eu tinha 5 anos... uma fada veio ao meu quarto numa noite.
- Até parece!
- Falei que não ia acreditar. Vá dormir.
- Não, conte.
- A fada entrou no meu quarto... e eu disse: "Até parece que você é uma fada". E fiquei falando. Ela voou pelo quarto, derrubando meus pôsteres e outras coisas.
- Ela voou?
- Tinha asas curtas e grossas. Pareciam coladas. Não acreditei que era uma fada. Então, ela disse: "Vou provar". Ela enfiou a mão na mochila e puxou uma capa invisível. Amarrou ao redor do meu pescoço e disse que era impenetrável. Sabe o que significa impenetrável? Que nada pode passar por ela. Nenhuma bala. Nada. Ela disse que, se eu a vestisse, nada poderia me fazer mal. Então, eu vesti. E nunca fui baleado nem esfaqueado na vida. Nada disso. Parece estranho? Só que ela me disse
para dar à minha filha... quando fizesse 5 anos, e esqueci.
- Posso tocar nela?
- Claro, toque.
- Não estou sentindo.
- É muito legal, não?
- Se quiser, amarro em volta dos seus ombros. Ela me ensinou... A menos que você ache bobagem.
- Não precisa dela?
- Não, não preciso mais.
- E então, você quer? Ok, agora vou tirar você daqui. Levante a cabeça. Está apertado demais? Sente algo? Ótimo. É como tem de ser.
- Tiro para tomar banho?
- Não, fique com ela o tempo todo. Até ter uma filha e ela fazer 5 anos. Aí, você dá para ela. Combinado?
- Combinado.
- Boa noite, meu bem.
- Boa noite.

Daniel & Lara, "Crash - No Limite" (2004).

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Enjoy the silence


- No que está pensando, David?
- Nada... Nós ficamos agindo como adolescentes por toda nossa vida. Só isso.
- Quem, eu e você?
- Sim, você e eu. Passamos nossa vida... a procura de que? A única vez que engravidou, teve um aborto, porquê... Não era o momento. Isso foi há 15 anos atrás. E o momento certo jamais veio.
- Nem a pessoa certa.
- Lembra-se do tampão que encontrou no meu banheiro? Aquilo pertencia a uma jovem por quem me apaixonei. Que tipo de chance nós temos? Ela e eu? Nenhuma. Com sorte, alguns anos. Mas, no final, ele teria percebido... literalmente, um homem 30 anos mais velho que ela. Nada: era o que gostaria que tivesse acontecido entre mim e ela. Foi um erro.
- Estou ficando velha, David. Mulheres olham para mim, e me vêem mudar a cada dia. Elas estão na nossa idade... muitas mulheres, que estão nisso, namorando... através da internet. Nós garantimos um certo número de encontros por ano. E você paga pelo silêncio e... e... é a mesma conversa, toda vez. Não quero ser como elas.
- É possível, que seja realmente a primeira vez que conversamos um com o outro.
- Bem... Depois de 20 anos dormindo juntos, não é mau. Conheço muita gente... que nunca foi tão longe em 40 anos de casamento.
- Que horas é seu vôo?
- Às 9:30.
- Eu levo você.
- Não. Por que começar agora?

Carolyn & David, "Fatal" (2008)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Não me faça rir, dói muito


- Vou ficar quieto. Nao te incomodarei com minhas baboseiras hoje.
- Não? Que pena, agora que eu começava a me divertir. imagino que voce tenha uns 15 anos.
- tenho exatamente 3 vezes 15. E você?
- ...
- Sabe que já sonhei algumas vezes com você? Não se preocupe, nada erótico.
- Que pena.
- Não me faça rir, dói muito. Com o que você sonha, Cora?
- ...
- Sabe que no Japão... Inventaram uma espécie de... Travesseiro cibernético, usado para programar seus sonhos? Você diz à máquina com o que quer sonhar. Por exemplo: Eu quero sonhar sobre... Sean Connery vestido de escocês, e quero estar no pólo norte, pra me esconder na saia dele... Ou algo assim... E funciona. Esta noite... você sonharia com o pólo norte e sean Connery com uma saia escocesa. Com o que você iria querer sonhar, Cora? - ...
- Comigo... sem saia escocesa? Sem nada. Numa ilha tropical. Numa rede enorme. Com espaço para nós dois... Está me ouvindo?
- Sim.
- Nossos corpos abraçados, muito perto um do outro. Nosso suor se misturando. Sem que nada importe. Somente você e eu, Cora. Você e eu... Está olhando pra mim, Cora?
- Não.
- Tem certeza? Acho que estava. Já está mentindo pra mim. Está começando a gostar um pouco de mim.

Josef & Hanna, "A Vida Secreta das Palavras" (2005).

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Sempre gostei de garotas de uniforme


- Olá. Então é isso o que faz para não pensar? Parece divertido...
- Sim. Muito divertido.
- Eu vim para...
- Se veio para a degustação de sushi, começa mais tarde.
- Não... Depois de três anos aqui, ainda não consegui me acostumar com sushi no café da manhã...
- Nem a fazer ruído comendo ramen.
- Nem a fazer ruído comendo ramen.
- Por que veio aqui?
- Não quer se trocar?
- Não gosta do meu uniforme?
- Sim. Sempre gostei de garotas de uniforme. Enfermeiras, policiais... Funcionárias do mercado de peixe...
- Você veio me dizer adeus?
- Não. Bem... Sim. Eu vim me despedir e te agradecer.
- Não tem que me agradecer por nada.
- Sim, tenho que te agradecer. Sem você, eu... Não sei o que teria feito.
- Não tem que me agradecer. Fomos algumas vezes a um motel, me fez provar vinhos interessantes, tomamos ramen, trepamos porque sentia saudade de sua namorada. Isso é tudo.
- De qualquer forma, eu teria gostado... Não sei... de te conhecer em outro momento da minha vida. Teria sido ótimo. Eu gosto de você e percebo que não sei nada a seu respeito.
- É melhor assim. Se me conhecesse, não iria gostar de mim.
- Não acho isso... Não acho isso... Não acho isso.
- Diga meu nome.
- Ryu.
- Diga mais vezes.
- Ryu... Ryu... Ryu...

David & Ryu, "Mapa dos sons de Tóquio" (2009).

segunda-feira, 30 de maio de 2011

A corrente do ódio está rompida.


Meus amores... Onde começa a sua história? No seu nascimento? Então começa no horror. No nascimento de seu pai? Então começa como uma grande história de amor. Eu digo que a história de vocês começa com uma promessa, uma que rompe a corrente do ódio. Graças a vocês, finalmente hoje consegui cumpri-la. A corrente do ódio está rompida. E finalmente, tenho tempo de embalá-los, cantar suavemente uma canção. Nada é mais belo do que estar juntos. Eu amo vocês. Sua mãe, Nawal.

Nawal, "Incêndios" (2010).

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Quando a gente usa speed...


- Mamãe... Desculpe te acordar, mamãe querida.
- O que aconteceu?
- Mamãe...
- Teve um acidente?
- Estou tão contente por voltar a te ver. Temos que conversar! Temos que conversar! Temos que conversar. Quero que falemos.
- Falar de quê?
- Ia no metrô e de repente percebi... Viajávamos e eu me dizia que se a visse em minha frente... Gostaria de te dizer tudo o que preciso te dizer... E que nunca te disse porque não sou um falador... Sabe que dificilmente me aborreço com quem se pode falar facilmente... Mas então lembrei todas as coisas que queria te dizer... Te dizer uma atrás da outra, precisaria de 100 anos. 100 anos para te dizer tudo o que quero te dizer! E quando estava no metrô eu pensava. Pensava em você com todos os graffitis e cores...
- Era sujo.
- Era maravilhoso. Era incrivelmente maravilhoso! E olhava e dizia a mim mesmo: "Temos que conversar. Obrigatoriamente temos que conversar". Porque, às vezes, ouço você dizer: "Já não conversamos como antes". Mas eu penso isso também. Concordo. E então... Então eu pensava: se eu não disser agora... Se não disser agora... Vou ficar remoendo isso no meu caixão! Se não conversarmos, levaremos tudo para o caixão... com uma vozinha dizendo: "Devia ter-lhe dito! Maldita seja... Não disse?! não disse?! não disse?! não disse?! não disse?!" Podia ter-lhe dito... Ok?
- O que está acontecendo? Por acaso... Você se drogou? Se drogou no colégio interno? Meu Deus.
- Não é assim tão grave! Não é assim tão grave! O importante... O importante... É que estamos juntos. Agora. Entende? É isso que conta. O resto não importa.
- Ok.
- Está bem.
- Beba um copo de leite.
- Estou bem.
- Está molhado.
- Estou bem. Tudo está bem. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo.
- Eu também te amo. Também te amo muito, mas vai dormir agora. Beba um copo de leite, que desintoxica. Você ri...
- Porque estou contente.
- Também estou contente. Agora vai dormir porque está ficando tarde. Beba leite.

Hubert & Chantale, "Eu Matei Minha Mãe" (2009).

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Proteções


- Hora de dormir, gatinha.
- Ah! não! Só mais um pouco!
- Mas não por muito tempo.
- Mamãe, eu tenho uma pergunta.
- O quê, querida?
- Quando você e titia eram pequenas, vocês ficavam muito tempo juntas?
- Sim, muito.
- Mas a tia Juliette é mais velha que você. Então ela lhe protegia?
- Sim, contra tudo.
- E porque ela parou?
- Porque eu já não era mais uma menininha. Agora, durma.
- Sempre precisamos de quem nos proteja, não é? Mesmo grandes?
- É para isso que o papai está aí. Vamos dormir agora.
- Sabe mamãe, eu amo muito a tia Juliette.
- Eu também, meu anjo.
- É uma pena ela não ter filhos.
- Por que está dizendo isso?
- Porque eu teria muitos primos.
- Durma.

Léa & Petit Lys, "Há Tanto Tempo que te Amo" (2008).

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Uma outra forma de amar


- Não diz nada, senhorita? Não gostou da minha pintura?
- Você já esteve apaixonada?
- Essas coisas são pessoais.
- Por favor...
- Não vai contar a ninguém? Uma vez, há muito tempo, eu me apaixonei. Ele se chamava Cyril. Um oficial. Ele me cortejou... Ficamos noivos, e, então, um dia, ele desapareceu.
- Você nunca tentou encontrá-lo?
- Fazer uma pintura, senhorita... é uma outra forma de amar. Frequentemente, eu o vejo dentro de mim, ou através de outros rostos. E eu me digo que, se eu ainda penso nele, talvez ele ainda pense em mim.
- Posso tirar uma foto sua?
- Sim.
- Olhe para mim.
- Não, eu preciso elevar meus olhos. Minha inspiração vem do alto.

Séraphine & Anne-Marie, "Séraphine" (2008).

domingo, 16 de janeiro de 2011

Você deveria pôr um anúncio no jornal


- Alguma notícia de seu irmão?
- Recebi um cartão ontem. De Le Mans.
- Ele está por aí.
- É. Não sei o que ele está fazendo.
- Ele não disse?
- Ele fala que arruma uns "bicos", às vezes ele toca em bares. Ele toca violão e canta muito bem. Ele fica alguns dias, às vezes uma semana. De Rennes, ele me escreveu duas vezes. Então pega suas coisas e vai embora. Ele não quer me ver.
- Perto da casa de meus avós, tinha um carinha que sumiu um dia, e ninguém sabia por quê. Não dava notícias durante anos. Nem uma carta sequer. Então um dia, os pais dele estavam cerca de 300 quilômetros de casa, e o viram, deitado na calçada, mendigando com um cachorro.
- Por que está me contando?
- Não sei. Para mostrar que ninguém sabe o que se passa na cabeça dos outros. Talvez ele conheceu alguém e... Você deveria pôr um anúncio no jornal. Peça o número de telefone dele ou endereço.
- Ele não quer me ver. Eu queria dizer... Quando você foi ao hospital... achei demais. E o livro também.
- É bom, huh?
- O final é ruim, mas o livro é bom.
- Final feliz uma vez, ruim em outra, assim é a vida.

Thomas & Lili, "Não se Preocupe, Estou Bem" (2006).

sábado, 15 de janeiro de 2011

Porque eramos diferentes


- O sujeito que traz as coisas pra mim achou que fosse meu marido.
- Não conhecia Louis?
- Não. De qualquer forma não se parece com ele.
- É normal.
- Por quê?
- Porque eramos diferentes. Não sei se realmente gostava dele. Quando penso nele, sempre ouço gritos, insultos... Não sei o que lhe fizeram. Se realmente sofria, se tinha razão para guardar rancor, mas... eu guardava dele por ter feito minha mãe chorar. É estranho, no dia do enterro meu pai estava consternado. Enquanto ela... chorava. Cheguei a pensar que talvez tivesse ganhado a guerra. Que finalmente estava vingada. Que nunca mais a faria chorar novamente.
- Gostaria de vir comigo à praia mais tarde?
- Sim, claro.

Mousse & Paul, "O Refúgio" (2009).

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Eu não disse que lhe daria um beijo.


- Aonde você vai?
- Só vou buscar uma xícara de café. Você quer algo?
- Sim, pode trazer um chocolate quente?
- Certo, eu trago.
- Quando você volta?
- Uns cinco minutos. O que quer dizer? Já volto.
- É que eu estou com essa sensação de que você não vai voltar.
- ... Acabei de dizer que já volto. Eu estarei de volta em,
uh, em cinco minutos. Trago um chocolate quente.
- Eu gosto de você de verdade. Vou ficar muito triste se você não voltar, a menos que você me diga. Se você não for voltar, só me diga. Não minta pra mim. Você vai voltar ou não?
- Se você não quiser que eu vá, eu não irei, certo? Eu não trago um chocolate quente. Nós podíamos só...
- Se você quer um café, vá pegar café. Apenas volte.
- Eu falei que já volto.
- Pode me dar um beijo de despedida?
- Não. Não comece... Por favor... Não arrume encrenca. Não... Não... Não faça maldade. Eu não disse que lhe daria um beijo. Eu disse que traria um chocolate quente, certo? Então estou indo.
- Posso ter um abraço então?
- Ah, cara. Qualé. Não podemos apenas apertar as mãos?
- Ok.
- Lembre-se que você prometeu que vai voltar.
- Prometo.
- Billy... Eu só queria que você soubesse que eu acho que você é cara o mais doce no mundo... E o mais bonito... E eu te amo.

Layla & Billy, "Buffalo '66" (1998).