terça-feira, 18 de outubro de 2011

O que resta?


- Vai mesmo embora amanhã?
- Acho que sim.
- Sentirei sua falta.
- E nós mal nos conhecemos...
- "Você não sabe o que você é
Tens sonhado por toda a sua vida,
Teus olhos têm se mantido fechados
A maior parte do tempo.
O que quer que tenha feito
Retorna em forma de escárnios.
Os escárnios não te representam.
Por baixo deles e dentro deles
Vejo você à espreita."
- Quem é esse?
- Walt Whitman.
- Acho que nunca imaginei que uma mulher que pescou um bagre de 20 quilos me recitaria uma poesia.
- É exatamente assim que ele deve ser recitado. Escrito sem rima, ou métrica, versos livres... O que fosse que ele sentia por dentro saía fluindo em seu ritmo intrincado. Paixão pura e desavergonhada. Sem restrições definidas...
- Desculpe, tenho alguns problemas com isso.
- Por quê?
- Porque alguns sugerem que até poesia tem regras.
- Ou você faz suas próprias regras...
- Exatamente isso. É essa a parte que não acredito.
- Por quê?
- Porque se todos vão por aí, criando suas próprias regras, como pode... saber qual é a verdadeira? Não há nada em que se apoiar...
- "Uma noite
Dividi minha pele de cigarra
Devorei suas folhas
Sem conhecer venenos
Nenhuma regra de nutrição
Naquela cegueira dissimulada
Uma desejo finalmente verdadeiro."
- Quem é esse?
- Sou eu.
- Talvez o que seja verdade esteja à nossa frente... e nos afastamos sem saber que está lá. Uma vez que ache que tem tudo resolvido... O que resta?

Janet & Billy, "Leaves of Grass" (2009).

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