sábado, 11 de junho de 2011

Monstros não existem


- Como vai?
- Tudo bem.
- Não se assustou, não é? Não há monstros no armário, há? Detesto monstros.
- Monstros não existem.
- Então, ótimo.
- Ouvi um barulho.
- De caminhão?
- De bala.
- Estranho. Porque nós saímos daquele bairro violento. E não há muitas armas por aqui.
- As balas vão longe?
- Bem longe. Geralmente, penetram em algum lugar e param.
- E se não pararem?
- Está pensando na bala que passou pela sua janela? Quer que nos mudemos de novo?
- Gosto daqui.
- Eu também. Mas se aquela bala descobrir onde estamos... Espere aí.
- O que foi?
- Que idiota! Como pude esquecer?
- O quê?
- Esqueça. Você não vai acreditar.
- Conte.
- Está bem. Quando eu tinha 5 anos... uma fada veio ao meu quarto numa noite.
- Até parece!
- Falei que não ia acreditar. Vá dormir.
- Não, conte.
- A fada entrou no meu quarto... e eu disse: "Até parece que você é uma fada". E fiquei falando. Ela voou pelo quarto, derrubando meus pôsteres e outras coisas.
- Ela voou?
- Tinha asas curtas e grossas. Pareciam coladas. Não acreditei que era uma fada. Então, ela disse: "Vou provar". Ela enfiou a mão na mochila e puxou uma capa invisível. Amarrou ao redor do meu pescoço e disse que era impenetrável. Sabe o que significa impenetrável? Que nada pode passar por ela. Nenhuma bala. Nada. Ela disse que, se eu a vestisse, nada poderia me fazer mal. Então, eu vesti. E nunca fui baleado nem esfaqueado na vida. Nada disso. Parece estranho? Só que ela me disse
para dar à minha filha... quando fizesse 5 anos, e esqueci.
- Posso tocar nela?
- Claro, toque.
- Não estou sentindo.
- É muito legal, não?
- Se quiser, amarro em volta dos seus ombros. Ela me ensinou... A menos que você ache bobagem.
- Não precisa dela?
- Não, não preciso mais.
- E então, você quer? Ok, agora vou tirar você daqui. Levante a cabeça. Está apertado demais? Sente algo? Ótimo. É como tem de ser.
- Tiro para tomar banho?
- Não, fique com ela o tempo todo. Até ter uma filha e ela fazer 5 anos. Aí, você dá para ela. Combinado?
- Combinado.
- Boa noite, meu bem.
- Boa noite.

Daniel & Lara, "Crash - No Limite" (2004).

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